Penso que umas das coisas mais difíceis de fazer é falar sobre nós mesmos. Cada indivíduo é diferente do próximo e gostos não se discutem. A ideia que temos de nós é, às vezes, diferente da ideia que é gerada pelos outros.
Chamo-me Alexandra Guerreiro Pinto Lisboa, nasci a 27 de Outubro de 1978 na Trindade do Porto e vivo em Pevidém com os meus pais.
Eu pertenço a uma família originária de duas zonas do país. Uma parte da minha família, oriunda supostamente da zona sul do país deu-me o nome Guerreiro; a outra parte da minha família oriunda de Fânzeres - Porto deu-me o apelido de Pinto Lisboa. Como as duas famílias se juntaram, não sei dizer e penso que não há ninguém da minha família que o saiba explicar.
A origem do meu nome Guerreiro para além de ser um nome de raízes judaicas, provém de uma família da corte espanhola de Castela e Andaluzia. A origem do meu apelido Pinto Lisboa, também com raízes judaicas, é desconhecida porque existem documentos que indicam origens no Brasil e outros pontos do mundo. Tanto um como o outro, são nomes de famílias brasonadas.
A razão pela qual os meus pais me chamaram de Alexandra foi pelo simples facto de ser um nome grego e apenas porque a minha mãe gostava muito da sonoridade do nome.
Não posso falar muito de mim de quando ainda era criança. Não tenho muitas memórias de situações passadas durante a minha infância. Lembro-me de certos fragmentos de brincadeiras que fazia em família ou só com a minha irmã, férias, aniversários e ocasiões especiais. Recordo-me de algumas coisas quando revejo fotos antigas ou ouço alguma música específica que já ouvi numa situação qualquer quer a nível pessoal, quer a nível profissional/escolar.
A minha vida escolar sempre foi muito atribulada porque em criança era alvo daquilo que hoje se chama de bulling, facto que se prolongou pelos vários anos de estudante por ser alta, magra, usar óculos, não ser boa aluna e outras coisas semelhantes. Aquilo a que chamam “coisas de criança”.
Tal como todos passei pela adolescência com altos e baixos, feliz e menos feliz, com todos aqueles problemas fúteis de uma teenager e amores impossíveis. Tive muitos sonhos de adolescente como qualquer pessoa e que se foram alterando à medida que fui crescendo mas, infelizmente nenhum se cumpriu ate hoje. Certo é que ainda continuo com o eterno sonho de um dia vir a ser feliz.
Tenho vivido sempre em altos e baixos com recurso a antidepressivos e calmantes para conseguir levar a minha vida para a frente minimamente possível. Não é fácil arranjar empregos e ter estabilidade financeira e sempre andei em empregos temporários tentando insurgir-me na sociedade para poder ter um lugar só meu, a minha privacidade e vida pessoal mas não tenho conseguido.
Sem baixar os braços, não desisti de lutar para melhorar a minha vida. Fazia dos meus dias um corropio de buscas por emprego (ou trabalho como dizem às vezes) que me ajudasse a dar um rumo novo à minha vida. Os meus dias tornaram-se uma rotina certeira de visitas a sites de emprego nacional e internacional, idas e vindas ao Centro de Emprego, Câmaras Municipais, Juntas de Freguesias, lojas de rua, lojas de shopping's e muitos outros locais.
A maioria das visitas que fazia pessoalmente não davam em nada. Às vezes parecia mesmo que batia com a cara na porta. Outras vezes, enchiam uma pessoa com esperanças para depois quebrar a esperança que se tem ou nunca mais voltar a entrar em contacto. Até que um dia, o sol sorriu para mim e o destino resolveu dar-me uma lufada de ar fresco na minha vida.
Durante as voltas que dava em luta contra o desemprego, cheguei a inscrever-me numa formação profissional, orientada pelo Centro de Emprego para poder ter habilitações literárias de 12º ano. O curso seria ministrado por formadores pertencentes à escola profissional de Mazagão e as aulas seriam dadas num recinto na minha cidade - Guimarães. A designação do curso era: Curso Profissional de Técnico de Informação & Animação Turística.
Quando recebi a chamada do Centro de Emprego, não queria acreditar no que ouvia. Finalmente algo de bom estava a acontecer-me. Tive sorte no meio de tanta gente que se candidatou a uma vaga na formação. Dei pulos de alegria.
Depois de tantos anos sem emprego fixo, este curso permitiu-me algo que já não sentia há muito tempo: satisfação de poder fazer algo que realmente gosto e trabalhar em algo que realmente me encanta que é turismo e coisas que estão interligadas ao turismo como viagens, animação, trabalho, conhecer pessoas e culturas diferentes e acima de tudo, conseguir ter o 12º ano que foi um objectivo a que me propus mas que não tinha ainda conseguido realizar.
A turma seleccionada era bastante homogénea em idades e era constituída por 20 pessoas inicialmente, maioritariamente por mulheres. Todos os formandos eram de localidades diferentes, com vivências marcantes e todas com vontade de vencer. Ao longo do curso, como acontece sempre, foi preciso criar habituação e conciliação entre todas as pessoas porque ninguém era igual a ninguém e as personalidades de cada um diferem.
Aprendi imenso com este curso. Aprendi a desvendar o meu país e as maravilhas que escondem. Aprendi a usar a imaginação, criar projectos, fazer publicidade promotora ao nosso país e muitas mais coisas. Diverti-me imenso durante as 13 meses de aulas, perdi colegas (porque durante a formação houveram colegas que desistiram), ganhei amizades inesquecíveis vi injustiças e provas de coragem.
Aquela turma, de 15 pessoas tornou-se muitas vezes um grupo inseparável mas tal como tudo, às vezes também se transformava num campo de batalha. Mas no fim, tudo acabava bem e tudo seguia em frente. Já passaram muitos meses desde que o curso acabou. Acabaram os contactos entre todos e cada um seguiu a sua vida.
Infelizmente, o desemprego continua presente na minha vida mas a minha luta ainda não acabou. Não vou baixar a cabeça nem os braços. Para a frente é que é caminho. Venha o que vier, serei forte para enfrentar.
Cometi erros mas aprendi com eles; magoei pessoas mas fui muito magoada; já passei por muito, já vi muito e já vi mais do que queria. Armei confusão e fui rebelde durante a adolescência mas não me arrependo de nada.
Tudo isto ajudou-me a tornar-me quem sou e espero que me ajude a ser cada vez melhor e a conseguir olhar no espelho e ver alguém com confiança, auto-estima, força de vontade.